Produção de grãos muda perfil da criação de gado na região

Em pleno cerrado, numa das maiores fronteiras agrícolas do Brasil, os campos exibem um rebanho numeroso. Já são 2 milhões de cabeças de gado no oeste da Bahia. O número de pecuaristas na região ultrapassa os 220 criadores de animais. Este pedaço do estado, formado por 31 municípios, abriga uma pecuária cada vez mais forte. E não é qualquer rebanho. O plantel reúne animais de alta genética, com predomínio da raça Nelore.

“A nossa região é de genética, de cruzamento e de alto valor agregado, onde o criador consegue ter uma rentabilidade maior”, afirma Stefan Zembrod, Presidente da Associação de Criadores de Animais do Oeste da Bahia, a Acrioeste.

Mas nada é por acaso. Os produtores rurais estão investindo na pecuária com base em um negócio que envolve estratégia de logística. Muitas fazendas de criação de gado estão nos municípios de São Desidério, Barreiras e Luiz Eduardo Magalhães. A região é a que mais produz grãos na Bahia, principalmente soja e milho, bases da ração animal. Assim, ao invés de levar o alimento até o gado no alto sertão, eles levam os animais até onde está a comida.

“A pecuária vem ganhando força por conta disso. Nossa região é favorecida por ser produtora de milho. Isso influencia inclusive na questão do frete. Sai bem mais em conta e gasta menos com transporte”, acrescenta Zembrod.

Com as plantações tão perto, a ração no Oeste chega a ser 20% mais barata do que em outras partes do estado, onde não há produção de grãos.

A estratégia está mudando o perfil da pecuária da região. O pecuarista que antes enviava bezerro para engordar em Feira de Santana e no Recôncavo Baiano, agora realiza o ciclo completo: cria, recria e engorda. O gado é enviado para abate em agroindústrias de várias regiões do Estado.

Precisão – A tecnologia está cada vez mais presente nas fazendas de pecuária do Oeste. Na Captar, a cerca de 30 quilômetros de Luiz Eduardo Magalhaes, um sistema moderno de produção se espalha por toda a propriedade. Ele inclui rastreadores de animais, computadores de bordo nos caminhões que fazem a distribuição de ração nos cochos, reutilização da água da chuva, além de equipamentos que permitem a programação eletrônica das máquinas na fábrica de ração.

Segundo Almir Moraes, dono da fazenda, o uso da tecnologia é priorizado. “O que existe de tecnologia no Brasil é usado aqui. Tudo é automatizado. Inclusive nós usamos um sistema pioneiro no país que é o SAP. Ele tem uma base única, que compila todas as informações de estoque, ganho de peso, alimentação”, diz Moraes, que usa os conhecimentos de engenheiro civil para melhorar a produção da fazenda.

Foi assim que ele instalou na propriedade um sistema sustentável de reúso dos resíduos. Tubulações subterrâneas direcionam tudo o que os animais produzem para lagoas de decantação. Os resíduos acumulados são transformados em adubo orgânico e se transformam em mais uma fonte de renda da empresa. O adubo está sendo vendido em saquinhos.

Confinamento – O confinamento é o sistema usado para engordar o rebanho. Como o próprio nome sugere, ao contrário da pastagem, os animais confinados só podem circular por uma área delimitada, assim acumulam energia e apressam o ganho de peso. O tempo de engorda cai pela metade.

“Enquanto na pastagem o animal pode adquirir até 5 a 6 arrobas em um ano, no confinamento ele ganha até 7 arrobas em 100 dias”, explica o zootecnista José Feliciano Neto.

A propriedade tem capacidade para confinar até 30 mil cabeças de gado de uma só vez. Atualmente, são 12.600 cabeças.

É que apesar da utilização maciça de tecnologia, a mão-de-obra conta com o profissionalismo dos vaqueiros. São pessoas como Antônio Teixeira, vaqueiro há mais de 30 anos, que ajuda a guiar os animais que ficam, eventualmente, soltos no pasto. “A gente cuida para não deixar sair para o curral, ou pular para o pasto dos outros!”

A raça predominante no Oeste é a Nelore, gado de corte, voltado para produção de carne e utilizado para melhoramento genético. A raça é originária da Índia e foi trazida para o Brasil no final do século XVIII. Os nelores têm tolerância ao calor, possuem alta fertilidade e se adaptam bem aos trópicos, demonstrando resistência a doenças e pragas.

Fonte:Correio 24 Horas