Neste início de 2020, uma das decisões de maior impacto na sanidade do rebanho bovino brasileiro deve ser anunciada em março. Ela se refere ao início efetivo do trabalho de suspensão da vacinação contra a febre aftosa no País, nas regiões de importância econômica para a pecuária, para uma doença que já levou aos produtores prejuízos incalculáveis na história do setor.

O estado do Acre informará às autoridades sanitárias se estará apto para suspender a vacinação no rebanho de xx animais. Caso a resposta seja sim, tudo estará nos eixos da política de blocos adotada pelo País para acabar com a presença do vírus da febre aftosa no rebanho.

Para entender o que está ocorrendo é preciso retomar ao dia 4 de dezembro do ano passado. Em audiência pública, o governo do Estado de Rondônia comunicou que vai parar de vacinar seu rebanho bovino de 13,9 milhões de animais contra a febre aftosa, a partir deste ano. Além deles, os bubalinos também.

A decisão isolada destoa das diretrizes sanitárias fechadas com a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE), organismo internacional com sede em Paris, do qual fazem parte 178 países.

Isso porque, pelo cronograma apresentado à OIE, a suspensão da vacinação em todo o País, a partir deste ano, seria realizada em blocos de estados, divididos em cinco grupos (confira abaixo). No caso Rondônia e Acre fazem parte do Bloco 1 do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (Pnefa). 

Trabalho compartilhado

O Plano Estratégico 2017-2026 visa tornar o Brasil livre de febre aftosa sem vacinação, com reconhecimento pela OIE. Hoje, apenas o estado de Santa Catarina, com pouca expressão na criação de gado, tem o aval de zona livre de febre aftosa sem vacinação. O restante tem a chancela de área livre com vacinação.

“ Caso o Acre não esteja apto, temos um planejamento para isolar o estado com fiscalizações diárias e noturnas no sentido de evitar que gado vacinado entre em Rondônia”, diz Walter Cartaxo, coordenador técnico da agência de Defesa Agrosilvopastoril de Rondônia (Idaron).  O plano de ações já foi entregue ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). 

A decisão de Rondônia, de seguir em frente mesmo isoladamente, foi tomada no dia 21 de novembro, em uma reunião do Bloco 1. Na ocasião, estados e representantes do Mapa checaram documentos do Idaron. Eles mostram Rondônia está apto do ponto de vista técnico, de segurança aos produtores contra uma possível reintrodução da doença. Há 20 anos não há casos registrados no estado.

Mas o Acre anunciou não estar pronto para a suspensão, com base em documentos apresentados pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idafi).  A partir daí que ficou definida a auditoria até o fim a de fevereiro, com o parecer em março sobre a sua adesão à suspensão da vacinação. 

À DBO, o Mapa informou em entrevista exclusiva, que a decisão de Rondônia não fere as regras do jogo. “O estado de Rondônia está seguindo todas as regras e orientações do Mapa para solicitar o pleito de suspensão da vacinação de febre aftosa. O pleito será analisado pelo Mapa com base nos critérios estabelecidos no Plano Estratégico do PNEFA, na legislação vigente e nas diretrizes internacionais sobre o tema.” 

De acordo com o Mapa, embora o Plano Estratégico considere a dependência comercial e a movimentação animal para agrupar os estados em blocos, buscando otimizar custos no momento da suspensão da vacinação, já que há restrições de trânsito animal entre áreas com condição sanitária distinta, é dado a um estado ou bloco o poder de antecipar ou prorrogar a suspensão da vacinação.

Durante 2020, o País precisa cumprir uma agenda junto à OIE das ações do PNEFA. Em relação a Rondônia, de acordo com Cartaxo, do Idaron, é buscar o status de área livre sem vacinação. “Cabe ao Mapa essa tarefa”, diz ele. Ao estado cabe a realização de sorologia, com coleta de sangue dos bovinos para provar a ausência da vacinação. O estado deve provar que não está mais vacinando. “Em maio de 2021, quando for realizada a reunião anual da OIE, será pleiteado o status de livre de febre aftosa para Rondônia. Estamos trabalhando desde 1999 nesse sentido. A retirada da vacinação é mais uma etapa do processo”. 

 

Fonte: portaldbo.com.br