Safra recorde se contrasta novamente com disputas do cereal e da soja entre mercados interno e externo. Saiba por que o pecuarista deverá sentir mais essa pressão

Pecuarista, prepare-se se na dieta do seu gado está a compra de rações e grãos. Se estava difícil encontrar ou mesmo segurar as compras antecipadas de milho, no ano passado,  este ano o cenário pode até ser um pouco pior. Apesar de – novamente – haver uma safra recorde pela frente, a consultoria Agroconsult prevê uma disputa ainda mais acirrada pelo milho brasileiro. No caso da soja, a oferta é melhor, mas o preço tende a ficar mais caro.

A empresa, uma das principais referências do mercado do grãos do País, apresentou na tarde desta quinta-feira (21/1) os dados preliminares da safra de grãos brasileira. A previsão é de 109 milhões de toneladas de milho, 5,8% a mais que na temporada 2019/2020. Se as exportações do cereal fecharem em 39 milhões de toneladas, seriam, a grosso modo, 70 milhões para o mercado interno.

“A situação é grave porque espera-se um grande um excedente de exportação, são cerca de 39 milhões de toneladas de milho. E metade disso já está vendido. Este vai ser um ano de milho caro, sem dúvida alguma”, diz André Pessôa, engenheiro agrônomo, presidente e sócio-diretor da Agroconsult.

Na bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, o milho que estava cotado em US$ 3,86/bushel (US$ 151,96/tonelada), em meados de janeiro do ano passado, está a US$ 5,20/bushel (US$ 204,72/tonelada). A variação é de 34,72%.

Milho é um dos principais ingredientes para as dietas de bovinos em confinamento

Todos querem o milho brasileiro

A dificuldade será maior para a atividade de pecuária pois os produtores não dispõem de capital para compras de grandes volumes antecipados do cereal, um grão essencial para a engorda de animais em sistema de confinamento. E a situação se agrava ainda com o hábito de o produtor ir às compras quando o milho estiver já colhido.

André Pessôa, engenheiro agrônomo, presidente e sócio-diretor da Agroconsult

A disputa passa a ser cada vez mais acirrada pelo cereal produzido no País porque o mercado internacional tem começado a ver muitas qualidades no cereal brasileiro, segundo relata Pessôa.

“O milho na safrinha vai direto para o porto assim que é colhido, tem uma excepcional capacidade de conversão alimentar e é extremamente competitivo, por isso o mundo inteiro está de olho nele”, diz Pessôa.

Soja

Já a colheita de soja deve ser de 132,4 milhões de toneladas, um novo recorde brasileiro e 5,5% a mais sobre a safra anterior. Se as exportações forem de 83 milhões de toneladas, 49,4 milhões de toneladas ficariam teoricamente no mercado interno. Para o grão, Pessôa não vê tanto o choque de compradores, pois, para a pecuária o que interessa é o farelo de soja, subproduto do grão após seu esmagamento.

No entanto, pelo preço da oleagionosa, o insumo seguirá a tendência de crescimento também. Só para se ter uma ideia, a bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, a soja que estava cotada em US$ 9,33/bushel (US$ 342,81/tonelada), em meados de janeiro do ano passado, está a US$ 14,12/bushel (US$ 518,81/tonelada). A variação é de 51,34%.

Avanço da área de cultivo de soja foi prioritariamente sobre áreas de pastagens

Sai pasto, entra a soja

O bom desempenho da colheita da safra 2020/2021 de soja se deve ao crescimento de áreas, vindas em grande parte da pecuária.

“Não se trata apenas de áreas de pasto degradado, mas de boas áreas que foram já abertas pelo homem do campo para criação de gado”, avalia Pessôa.

A área cultivada pelo grão passa a ser de 38,4 milhões de hectares, 4% sobre os 36,9 milhões de hectares do ciclo 2019/2020. Fonte: Redação e conteúdo Estadão

Fonte: portaldbo.com.br