Segundo o professor sênior de agronegócio do Insper, o Brasil deve melhorar seu diálogo com a Europa se fizer a regularização fundiária, aplicar o Código Florestal e melhorar a rastreabilidade

O professor sênior de agronegócio do Insper, Marcos Jank. Foto: Divulgação

O professor sênior de agronegócio do Insper Marcos Jank diz que o Brasil deve melhorar seu diálogo com a Europa se fizer a lição de casa na parte ambiental, ou seja, fizer a regularização fundiária, aplicar o Código Florestal e melhorar a rastreabilidade. Com isso, poderá aproveitar oportunidades que o mercado europeu oferece. Segundo Jank, essas oportunidades são, principalmente, em produtos com valor agregado.

“Esse é um esforço interessante para as áreas comerciais de empresas e deveria vir junto com um esforço para garantir produtos sem desmatamento ilegal”, disse ele no evento Brazil Agribusiness International Meeting, do Lide. Jank lembrou que, apesar de estar entre os principais produtores e exportadores de produtos agrícolas, o Brasil tem, globalmente no setor, poucas marcas. “Não temos marcas internacionais de café ou de laranja, por exemplo, embora tenhamos algumas de carne. E a Europa é a região ideal para se testar produtos com valor adicionado”, disse.

Para Jank, os europeus perderam peso como compradores de produtos agrícolas brasileiros – em 2000, a região representava 40% das exportações do País, e hoje está em 16% -, mas ganhou importância como formadora de opinião sobre o Brasil. “A Europa aprovou o Green Deal, agora Estados Unidos e China estão indo na mesma direção. Isso vai criar uma frente americana-chinesa-europeia na OMC, na Conferência do Clima e no G-20 puxando por um ajuste. Já falam, por exemplo, em acabar com produtos importados que tenham vindo de desmatamento.”

O especialista em agronegócio voltou a dizer que o Brasil é um dos países que podem garantir a segurança alimentar do planeta, citando ter feito “uma das revoluções agrícolas mais importantes dos últimos tempos”. No entanto, a imagem internacional do País nunca esteve tão ruim, enfatizou. “Temos duas ou três safras por ano, integração lavoura-pecuária, energias renováveis, um Código Florestal eficiente. E, em meio a isso, o Brasil é vilão no desmatamento e no clima; todos os dias outros países publicam matérias criticando o avanço do desmatamento no Brasil”, afirmou. “Isso nos obriga a fazer uma reflexão: somos vilões, vítimas ou solução? Acho que somos um pouco de cada.”

A solução, diz ele, é a combinação de tecnologias que poupam terra e uma matriz energética limpa. Por outro lado, o País também é um pouco vilão. “Ainda não conseguimos regularizar a posse da terra. Temos problema fundiário gigantesco que dura várias décadas, com vários produtores operando sem título de propriedade. E o controle do desmatamento é muito complicado. Além disso, nosso Código Florestal é bem rígido, mas não foi implementado nos Estados”, disse Jank. “Se tivéssemos implementado o Código Florestal e feito a regularização fundiária, o cenário seria outro.”

Os problemas do País nesse setor, afirma o professor do Insper, pioram tanto a imagem do Brasil quanto a captação de empresas. “Aumentamos a exportação para emergentes, mas no mundo rico já começam a surgir problemas com supermercados que não compram produtos com desmatamento e fundos que não querem investir em algumas das nossas companhias.” Com isso, algumas empresas brasileiras começaram, individualmente, a criar seus sistemas. Os grandes frigoríficos, por exemplo, fazem sistemas de monitoramento, certificação, e rastreiam seus bois até chegar no bezerro. Assim, elas garantem a origem de suas cadeias de suprimento.”

Ele alerta, porém, que isso pode criar um desequilíbrio entre as grandes empresas, que monitoram rigorosamente seus produtos, e as demais. “Só entre 20% e 25% da carne brasileira, por exemplo, é exportada. A maior parte fica no Brasil. O que acontece com o resto?“,

FONTE: portaldbo.com.br