07 MAIO 2021

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Em novo episódio da série Embrapa em Ação, cuja temporada mais recente foi gravada na unidade Cerrados, destaque para o trabalho do CTZL, o Centro de Tecnologia de Raças Zebuínas Leiteiras, que recentemente começou a pesquisar maneiras de melhorar o uso da FIV também na raça Nelore para a pecuária de corte.

Quem falou sobre o assunto em entrevista à equipe de reportagem do Giro do Boi que foi ao ar nesta sexta, dia 07, foi o pesquisador Carlos Frederico Martins, médico veterinário mestre em reprodução animal e doutor em ciências biológicas.

A FIV é uma biotécnica que hoje está sendo bastante demandada, bastante utilizada com o melhoramento genético dos rebanhos tanto de corte quanto de leite. É uma biotécnica que maximiza o potencial da fêmea porque você consegue produzir vários produtos de uma mesma fêmea durante o ano. Se na inseminação artificial é um produto por ano, na FIV eu posso ter 30, 40 produtos, dependendo do estoque de ovócitos que aquela fêmea me der durante o processo de aspiração folicular. Então eu maximizo o uso da fêmea, consigo fazer vários produtos, aumento a pressão de seleção com o melhoramento genético e reduzo o tempo desse processo de melhoramento”, apresentou.

Conforme destacou o especialista, a FIV pode acelerar em até dez vezes a velocidade do melhoramento genético em um rebanho. “O que demoraria 30 anos para eu fazer com inseminação artificial, eu faço em uma geração, em três anos, com a fecundação in vitro”, comparou.

Mas existem variáveis relevantes para que a técnica possa oferecer de fato esta possibilidade ao selecionador. O veterinário falou quais são os pontos cruciais para o sucesso desta ferramenta de reprodução bovina. “Sempre procurando usar as melhores fêmeas e os melhores machos. A fêmea tem que ser provada, testada, tem que usar a melhor fêmea de leite, a melhor fêmea de corte, a que ganha mais peso, que tem características como maciez de carne, entre outras. A gente vai selecionar e usar esta fêmea e procurar usar touros provados, que já foram testados, cujas filhas foram testadas, para fazer o processo no laboratório.

Martins disse que a técnica promove a valorização da seleção da fêmea porque, com a FIV, a matriz passa a ter potencial para produzir mais bezerros carregando a sua genética. “Isso é importante, principalmente no gado de leite. Aqui no CTZL a gente tem uma rotina de produção de embriões de fecundação in vitro sempre olhando para a fêmea. Primeiro a gente mensura o animal, verifica que ela é superior à média do rebanho, e aí sim eu escolho o touro que é o melhor para aquele acasalamento, para aquela fêmea, que combina com a morfologia da fêmea, com a produção dela, para eu melhorar mais ainda o rebanho com o nascimentos dos filhos. Então a gente acaba focando um pouco na maximização do uso da fêmea na mensuração da produção dela”, confirmou.

O veterinário detalhou o passo a passo da FIV na prática, simplificando o processo. “Nada mais é que a junção de um gameta feminino, o óvulo ou ovócito, com os espermatozoides do touro provado. A gente coleta o material destas fêmeas lá no curral, no brete, através de ultrassom. Existe uma probe que é introduzida na vagina do animal, ela acessa o ovário, a gente usa uma anestesia epidural para a vaca não sentir dor. A gente aspira os folículos que estão na superfície do ovário e coleta os ovócitos, que é o material genético daquela fêmea superior. Imediatamente a gente leva para o laboratório, passa um período adaptando essa célula no laboratório e, no dia seguinte, a gente faz a fecundação, prepara o sêmen congelado que vem das grandes centrais de inseminação e faz a junção desses ovócitos com o sêmen numa lupa. E eles permanecem em cultivo dentro de ovidutos sintéticos, um útero sintético, que é a nossa câmara de gás carbônico, uma simulação do que acontece dentro da fêmea, com temperatura, umidade, nível de gás carbônico, tudo controlado para que o embrião se desenvolver e para que, em sete dias, a gente possa transferir esse embrião ou embriões, já que são vários produzidos, para as fêmeas receptoras, ou congelá-los para umas transferência posterior num momento mais adequado”, resumiu.

O mestre em reprodução animal observou que a condição das receptores é outra etapa essencial para o sucesso da FIV. “A receptora é um ponto-chave. A gente tem que tomar cuidado com a parte nutricionalescore corporal, a parte sanitária, tem que estar perfeita para que a gente consiga sincronizar a ovulação através de hormônios e ela responder para que, no momento certo. a gente consiga introduzir o embrião para aquele útero que está preparado, para aquela receptora. Então tem todo esse preparo, colocá-la na melhor pastagem, no sal mineral, talvez até uma ração e fazer o manejo sem estresse do animal também é muito importante. Tudo isso influencia nos resultados finais”, frisou.

Martins justificou o motivo de a FIV acelerar o processo de melhoramento de um rebanho bovino. “Tanto na raça Gir como na Sindi, e nos cruzamentos que nós estamos fazendo hoje com JerseyPardo-SuíçoHolandês, misturando com Gir, com Sindi, a gente usa a ferramenta de fecundação in vitro, que acelera mesmo o melhoramento. É incrível […] porque eu estou selecionando os melhores materiais genéticos da fazenda. A melhor fêmea eu vou medir, ou é uma fêmea que tem uma análise genômica também. E eu posso utilizar essa ferramenta alternativa, essa informação, com o touro, que pode ter avaliação genômica também, ou touro que tenha o seu fenótipo mensurado através das suas filhas”, exemplificou.

Agora, além de rebanhos leiteiros, o CTZL está aplicando a ferramenta também em rebanho de corte, partindo da raça Nelore. “A gente está fazendo um trabalho explorando a possibilidade de coletar material genético de bezerras com a associação aos marcadores genéticos, com avaliação genômica, uma predição já do potencial dos animais para produzir embriões. Para esses animais, mesmo não estando na sua forma adulta, já existe um trabalho de pesquisa se iniciando, associando essa parte reprodutiva com a nutrição também, uma preparação nutricional para que elas possam fornecer mais ovócitos, mais embriões para que eu avalie até o congelamento desses embriões nesse processo todo envolvendo a parte biotecnológica de reprodução e nutrição. A gente começou esse trabalho lá na Embrapa Cerrados em Planaltina”, respondeu o pesquisador.

Martins ponderou que a qualidade da prestação de serviços é outro ponto-chave para o sucesso da FIV. Não é qualquer um que faz hoje. Existem laboratórios que prestam serviço, veterinários especializados que fazem treinamento, inclusive na Embrapa a gente faz treinamento para veterinários neste sentido, nesta tecnologia. Então tem que buscar uma mão de obra qualificada. Hoje está mais fácil encontrar e está mais barato o procedimento, existem até algumas linhas de crédito que o produtor pode usar para tornar a tecnologia mais acessível. Mas é uma excelente tecnologia dentro da escala de melhoramento genético. É uma ferramenta para quem está começando, realmente, formando o seu rebanho, e serve até para buscar material genético de fora da propriedade. Então é mais barato e mais fácil comprar uma aspiração, comprar ovócito, fazer os embriões no laboratório e transferir na propriedade e você vai ter um ganho genético muito mais acelerado”, recomendou.

Veja no vídeo abaixo a entrevista completa com o pesquisador Carlos Frederico Martins no da série Embrapa em Ação – unidade Cerrados: https://cdn.jwplayer.com/players/9FaCnSjW-gNraOmat.html

Imagem: Marcos Santos / USP Imagens

Fonte: Giro do Boi