Segundo dados do sistema Agrostat do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as exportações do produto atingiram US$ 1,222 bilhão, com o envio de 293,363 mil toneladas. Em 2016, os frigoríficos de bovinos de Mato Grosso encaminharam 237,781 mil toneladas ao exterior, com a movimentação de US$ 945,565 milhões.

A carne bovina abocanhou uma fatia de 80% do valor exportado dentro do complexo carnes (todos os tipos), indicando que apesar de todas as turbulências sofridas no ano passado, a exemplo da Operação Carne Fraca, o setor conseguiu reagir, fechando o ano com ampliação de mercado. Apesar do salto no valor negociado, o ano de 2017 foi de turbulências para o segmento.

Logo no início do ano, a indústria da carne foi atingida por uma grave crise de imagem em decorrência da Operação Carne Fraca, deflagrada em 17 de março pela Polícia Federal. A operação expôs para o país e para o mundo falhas na inspeção federal nos frigoríficos brasileiros, manchando a imagem do Brasil como exportador. Como consequência, vários países promoveram embargos e suspensões temporárias e reforçaram a vigilância na entrada dos produtos brasileiros em seus territórios.

As consequências foram imediatas. Com o fechamento de mercados fortes, como China e União Europeia, a crise se instalou em poucos dias e levou a uma queda brusca nas exportações do produto nos meses seguintes. As vendas de carne bovina caíram de US$ 91,917 milhões em março para US$ 57,281 milhões em abril, registrando queda de 37,6% após 1 mês da operação.

Como efeito da operação, no campo, os criadores sofreram com as intensas quedas no preço da arroba, que atingiu todo o país, inclusive, Mato Grosso, que detém o maior rebanho bovino, estimado em 29,651 milhões de cabeças, segundo o último levantamento do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea).

Segundo dados da Acrimat, o preço da arroba em fevereiro chegava a R$ 125,47 em Mato Grosso. Uma semana após a deflagração da operação, o preço recuou para R$ 118,75, baixa de 5,3% no período. Cerca de 2 meses depois, quando parecia que a situação se acalmaria, o setor sofreu novo revés, com a delação do presidente da JBS envolvido em corrupção na operação Lava Jato. Como a empresa concentrava cerca de 50% do mercado em Mato Grosso, a crise na companhia empurrou ainda mais a arroba para baixo.

“O ano passado tinha tudo para ser bom para a pecuária, porque a gente vinha monitorando o rebanho, a demanda, a possibilidade de aumento da exportação e os fundamentos eram bons, tanto que começamos o ano de maneira consistente nos preços, relativamente firmes. Alguns eventos extra-campo interferiram no negócio. Para se ter uma ideia, a arroba do boi chegou a oscilar 20% no ano passado. Não existe atividade que suporte uma variação tão grande assim. Produtor que precisou vender o gado naqueles meses da crise perdeu o ano”, comenta Luciano Vacari, diretor executivo da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).

Poucos meses depois o setor sofreu o bloqueio dos Estados Unidos – por abscessos na carne, provocado por uma reação à vacina contra febre aftosa – mercado importante que foi aberto após anos de negociação. Segundo Vacari, foram vários eventos negativos que somados interferiram no negócio e comprometeram o ano todo. “Apesar de toda essa oscilação que tivemos de março a julho do ano passado, de agosto para cá foram recordes de exportação, confirmando as previsões do início do ano. A arroba do boi voltou aos níveis do início do ano, sem ganho, mas com recuperação. O mercado interno melhorou um pouco, o que fez o ano terminar de maneira sustentada”.

O diretor da Acrimat avalia que o papel desempenhado pelo Ministério da Agricultura diante da crise, agindo de maneira rápida e transparente, abrindo as portas aos mercados importadores, mostrou transparência e credibilidade aos países e enterrou a crise da operação. “A imagem da carne brasileira não sofre mais nenhum resquício da Operação Carne Fraca. Tanto que os países foram retirando os embargos e hoje não temos mais nenhum por conta da operação”.

Na análise do vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frigoríficos de Mato Grosso (Sindifrigo), Paulo Bellincanta, a abertura e ampliação de mercados foram fundamentais para o resultado positivo no fechamento de 2017. “Nos anos anteriores, o Brasil fez um trabalho para abertura de novos mercados, como a China, que representou um grande volume das exportações do ano passado, e os Estados Unidos, que chegou a importar, por isso houve um incremento significativo nas exportações”.

Com a retomada da confiança de mercados importantes, Mato Grosso fechou o ano com o abate de 4,96 milhões de cabeças, quantia 5,5% acima do ano anterior, quando foram abatidas 4,7 milhões de cabeças. As perspectivas futuras são as melhores, já que o Estado conta agora com a reativação de 5 plantas frigoríficas que estavam fechadas há anos, e com perspectiva para abertura de 3 novas unidades já este ano.

Além disso, nos próximos anos o Estado contará com novos desafios, como o controle da febre aftosa sem o uso de vacina, que deve ser implementado a partir de 2021 em território matogrossense. Se atingido com sucesso, novos mercados podem abrir as portas. “O Japão, por exemplo, não compra carne com vacina da aftosa. A retirada da vacina é um selo a mais na imagem da vigilância sanitária do país, e pode possibilitar abertura de novos mercados”, comenta Bellincanta.

A exportação de carnes de Mato Grosso para outros países atingiu US$ 1,526 bilhão em 2017, com o envio de 440,964 mil toneladas de janeiro a dezembro, segundo dados do sistema Agrostat, do Mapa. O valor dos embarques aumentou 19% em relação ao ano anterior, quando somou US$ 1,282 bilhão. Já o volume totalizou 420,712 mil (t), aumento de 4,8% em 2017.

Fonte: A Gazeta