Há mais de 20 anos sem notificação de foco de febre aftosa e reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) como zona livre da doença com vacinação desde 2000, Goiás se prepara agora, juntamente com as demais regiões brasileiras, para alcançar status que assegura a ausência da enfermidade sem vacinação. A medida, que vem sendo trabalhada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em conjunto com Estados e entidades ligadas à pecuária, prevê que a mudança ocorra em 2023. Confirmada, a expectativa é que a nova condição viabilize a expansão do mercado para a carne produzida no Brasil, impactando também as negociações da produção goiana.

Há 11 anos não há registro de ocorrência de aftosa no Brasil. Segundo informações do Mapa, o processo de erradicação da doença finalizou-se nacionalmente com a declaração de novas zonas livres da febre aftosa com vacinação no Amapá, Roraima, em grande parte do Amazonas e em áreas de proteção do Pará, o que ocorreu no início de dezembro de 2017. A expectativa do Ministério da Agricultura é que o País seja reconhecido pela OIE como livre da aftosa com vacinação em maio deste ano. Santa Catarina, que detém 2% do rebanho bovino nacional e 16% do rebanho suíno, é o único Estado brasileiro atualmente reconhecido como zona livre sem vacinação.

Em Goiás, onde o último foco de febre aftosa foi registrado em 7 de agosto de 1995, segundo informações da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), a vacinação de bovinos e bubalinos prossegue. Na primeira etapa de vacinação, em maio, são vacinados no Estado todo o rebanho, a partir do 1º dia de vida e na etapa de novembro, a vacina é aplicada em bovinos e bubalinos com até 24 meses. Analista técnica do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Christiane Rossi afirma que uma das primeiras medidas e mais importantes para que o Estado esteja há décadas sem notificação de ocorrência da aftosa foi o entendimento da importância de se ter ações para combate à doença que no passado colocava Goiás em situação crítica, por se tratar de uma zoonose (veja box).

Outra justificativa foi o fato da economia goiana ser baseada na agropecuária, e, com o registro da doença, o acesso a vários países importadores de carnes era restrito. Segundo a analista, a principal ação para o fim das ocorrências foi a união entre todos envolvidos no setor e o estabelecimento de ações diretas para controle da doença onde cada agente, sejam instituições públicas ou do setor privado, definiu seus respectivos papéis e atuou efetivamente.

Entre as práticas adotadas para esta finalidade, Christiane cita o uso do calendário de vacinação obrigatória dos animais, o fortalecimento da defesa sanitária do Estado, com estrutura para fiscalização, controles, estabelecimento de regras de trânsito animal; as zonas tampão temporárias, a criação do Fundo para o Desenvolvimento da Pecuária em Goiás (Fundepec), com o principal objetivo de indenizar o produtor em caso de sacrifício de animais e também para apoiar ações de defesa sanitária.

A expectativa é que as oportunidades sejam ainda maiores com a consolidação do Plano Estratégico 2017-2026 do Programa Nacional de Febre Aftosa (PNEFA), do Mapa, que pretende reconhecer o Brasil como livre de aftosa sem vacinação em 2023. Para alcançar esse objetivo estão previstas ações como redução das vulnerabilidades e gestão dos riscos, fortalecimento do sistema de vigilância e da rede diagnóstica, sustentabilidade dos mecanismos de financiamento e acesso a bancos de antígenos e vacinas. Concretizada as perspectivas do Mapa, após reconhecimento nacional do novo status do País em relação à doença, será pleiteado junto a OIE o reconhecimento internacional da mudança.

Christiane Rossi informa que Goiás está cumprindo as metas do Plano Nacional. “Na fase em que nos encontramos já temos acesso a vários mercados. Porém, ainda se gasta muito com a aquisição das vacinas, com despesas para manejar os animais e ainda falta alcançar outros mercados que exigem que se seja livre de aftosa sem vacinação”, cita. Segundo Christiane, informações de representantes do Mapa mostram que o governo investe em torno de US$ 1 bilhão por ano com a vacinação e outras ações de fiscalização e controles.

A analista do Ifag cita que ao se eliminar a vacinação, continuarão a ser feitos investimentos de vigilância ativa e passiva, de fiscalização, educação sanitária, medidas de biosseguridade, barreiras, entre outros. Christiane informa que, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes, com a retirada espera-se a possibilidade de um incremento no faturamento das exportações do País em mais de US$ 1 bilhão ao ano. “Para exemplificar o incremento que dá nossa condição sanitária, não retirando os méritos das negociações que incluem outras expertises, Goiás saiu de uma quantidade de 7,6 mil toneladas de carne, resultando em um faturamento de R$ 18,8 milhões em 1997 para as 432 mil toneladas que renderam R$ 1,2 bilhão em 2017″, informa a analista.

Fonte: Faeg