A suspensão das campanhas de vacinação contra a febre aftosa começa já a partir do próximo ano; mercado está dividido sobre capacidade de arcar com as consequências

Em jogo, a reputação da pecuária nacional e a abertura de mercados mais exigentes, que podem colocar alguns bilhões de dólares a mais na balança comercial brasileira. Contra? A simples incerteza: o Brasil tem mesmo braço para colocar em prática tudo o que pretende?

O planejamento do governo federal para que o país seja reconhecido como área livre de febre aftosa sem vacinação começa, na prática, a partir de maio de 2019, pela região Norte, inicialmente em Rondônia e no Acre. Os dois estados serão os primeiros onde a aplicação da vacina será suspensa. A meta é acabar com as campanhas em todo o país até 2021, para então, em 2023, ganhar o reconhecimento da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE).

Causada por vírus, a aftosa é altamente contagiosa e traz impactos econômicos desastrosos, com o abate dos animais infectados e embargos à cadeia de proteína. Os casos mais recorrentes aparecem nos rebanhos bovinos, mas ela afeta praticamente todos os animais de “casco rachado”, como suínos e ovinos.

O último surto no Brasil foi em 2006, no Mato Grosso do Sul, um ano depois do último caso registrado no Paraná, quando mais de 6 mil cabeças foram sacrificadas e o setor estimava um prejuízo de R$ 180 milhões aos agropecuaristas paranaenses.

O professor Paulo Rossi, que coordena o Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura da Universidade Federal do Paraná (LapBov), avalia que as vantagens com o fim da vacina são indiscutíveis. O problema, para ele, é o tempo apertado.

“Existe um estudo em que a OIE mostra que o vírus está com baixa circulação na população bovina, que existe segurança para fazer isso. A grande questão é a fiscalização, que hoje é um dos pontos que a gente ainda questiona”, afirma. “Se você começa a liberar em alguns estados e em outros não, como fica fiscalização nas fronteiras?”

Atualmente, o Brasil já é território livre da aftosa, mas com vacinação, status que será reconhecido oficialmente em maio deste ano, na sede da OIE, na França. Nesta quinta-feira (5), inclusive, o Ministério da Agricultura (Mapa) encerrou uma série de atividades sobre o tema, na semana intitulada “Brasil Livre da Febre Aftosa”, para comemorar a erradicação da enfermidade no território nacional. Apenas Santa Catarina – que tem 4,5 milhões de cabeças ou 2% do rebanho nacional – é livre da doença dispensando a vacina.

Fonte: Gazeta do Povo