O tempo que vai perdurar o colapso que tomou conta do Brasil vai determinar a pequena folga que cada atividade produtiva tem regionalmente. É o caso dos pecuaristas do Norte e Centro-Oeste. Há capim disponível, mas boi no pasto já começa a ter algum limite.

A circulação de bois nessas regiões e os abates naturalmente estão bloqueados. Dos confinamentos, especialmente em Goiás, estado confinador por excelência, nada há o que dizer sobre a falta de alimento. “Mas nós que fazemos modelo com alto índice de intensificação, tínhamos que começar a pensar em fazermos a redução da lotação com a diminuição das chuvas”, explica Mauro Lúcio Costa, invernista de Paragominas, no Pará.

Até meados de maio, a ocupação é de 7,5 cabeças por hectare, sendo que nesta época ele abaixa para 5. Parou.

Independentemente da questão financeira de cada produtor, que não estão dando liquidez quando poderia ser urgente e necessário, mesmo com a arroba deprimida antes da crise e greve dos caminhoneiros, o custo chega de qualquer forma.

Para João Paulo Franco da Silveira, zootecnista especialista em manejo de pastagens, com base no Norte do Mato Grosso, os criadores nesta situação, que vão ter manter mais os animais comendo capim, enquanto ainda há qualidade, vão ter mais custo, embora não percam dinheiro imediatamente – de forma direta. Os bois terminados vão engordar mais e depositar mais gordura.

A boiada de Roberto Paulinelli está ganhando peso, “os pastos aqui estão muito bons”, porém ele já está no mesmo dilema de Costa. Também paraense, de Três Marias, e dono do frigorífico do mesmo nome, ele deveria manejar alguns animais: “Meu planejamento era para começar a fechar bois no confinamento ontem, como não tem como chegar insumos, tive de prorrogar”.

E mesmo com pastagens boas, mas com lotação alta e animais mais pesados, a qualidade da comida vai caindo, mesmo porque as chuvas no Norte estão mais espaçadas e menos distribuídas.

Luciano de Oliveira, goiano, mais preocupado com a situação toda porque está mais forte na cria e recria, também observa a situação ainda pouco mais favorável em regiões onde ainda tem bastante verde para os bois, como no seu estado, mas lá também ele entende que é “hora de começar a aliviar”. Ou pelo menos dar a largada, igualmente o que pensa Edio Brunetta, diretor do Grupo Itaquerê, da região do Araguaia do Mato Grosso.

Nas regiões mais próximas do Pantanal, nos dois Mato Grosso, a natureza ajudou bastante, proporcionando respiro aos produtores. As chuvas mais prolongadas que esparramam as cheias para mais longe e por mais tempo ajudam a segurar “os bichos comendo capim”. E Neto Gouveia, de Cáceres e dirigente da Famato, no Mato Grosso, acredita que vai assim até final de junho.

Mais para baixo, no Mato Grosso do Sul, Frederico Stella, presidente do Sindicato Rural local concorda, mas lá os bois a pasto já vem em baixa – há semanas, ao Notícias Agrícolas, ele já havia dito que tem muito invernista cortando produção há tempos pela crise do setor -, e o semi-confinamento ganhou alguma importância. Falta, portanto, protéicos, pelo menos, já que a ração ainda é um pouco mais dispensável, por enquanto.

Por: Giovanni Lorenzon
Fonte: Notícias Agrícolas