É a sexta expedição organizada pela CNA em três anos do programa de intercâmbio com representantes de países importadores

“Nunca vi tanto boi junto.” A frase é do conselheiro para Agricultura e Alimentação da Embaixada da Alemanha, Ansgar Aschfalk, depois de visitar a fazenda Captar Agrobusiness em Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano, que tem 22 mil bovinos em confinamento.

O alemão, os embaixadores da Indonésia, Edi Yusep, e do Vietnã, Do Ba Khoa, e mais representantes das embaixadas da Malásia, Argélia, Tailândia, Austrália, Canadá e Cuba estão visitando o oeste baiano nesta semana a convite da CNA, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, para conhecer o potencial do agronegócio brasileiro.

“O objetivo do Intercâmbio Agro Brazil é mostrar o que o nosso agronegócio tem de melhor. Queremos que os diplomatas conheçam o caminho dos fornecedores e o modo de produção da agricultura tropical”, diz Ligia Dutra Silva, superintendente de relações internacionais da CNA.

Segundo ela, poucos países têm uma agricultura tão eficiente e com padrões de sanidade tão altos quanto o Brasil. “Na Europa, é totalmente diferente. As áreas são menores e a produção é subsidiada. No Brasil, o produtor tem que ter a melhor tecnologia ou não vai conseguir concorrer no mercado externo.”

Além do tamanho da boiada, o adido alemão ficou impressionado com o trabalho de beneficiamento da Ubahia, cooperativa criada há três anos por dois argentinos. No primeiro ano, eles beneficiaram 11 mil toneladas de algodão. Neste ano, com sete sócios produtores, investimentos em logística, automação, estrutura, equipamentos e pessoal, a cooperativa beneficiou 25 mil toneladas. A previsão para 2020 é chegar a 27 mil.

“Tudo no Brasil é enorme, impressionante, mas eu não esperava menos”, disse. Aschfalk afirma que seu país compra muitos produtos agrícolas do Brasil e pode comprar mais. Nos primeiros sete meses deste ano, o país europeu foi o sexto maior parceiro comercial do Brasil.

Agricultura familiar

Franck Foures, conselheiro agrícola da Embaixada da França, também se impressionou com o tamanho do rebanho confinado. “Nosso maior rebanho é de duas mil cabeças e fica na Guiana. Na França, o rebanho médio é de cem a 150 cabeças. Houve um projeto de mil cabeças, mas não foi bem-sucedido. É uma questão cultural.”

O diplomata francês se mostrou ainda mais impressionado com o projeto social da Captar, que planeja integrar com a pecuária regiões do semiárido baiano e do Matopiba, tendo como foco a agricultura familiar e os pequenos agricultores.

Com capacidade estática de confinar 30 mil bovinos e meta de ampliação para 50 mil, mais fábrica de ração e de adubo organomineral, a empresa, inaugurada em 2001, quer vender aos criadores de gado das duas regiões bezerros com genética de alta qualidade, frutos do cruzamento industrial de nelore com angus, e depois recomprar os animais adultos para terminação no confinamento. “Nosso plano de negócios visa tirar 32 milhões de pessoas da pobreza”, diz Almir Moraes, dono da Captar.

“É muito interessante o uso da pecuária como sujeito de desenvolvimento social. Penso que uma atividade não consegue ser sustentável se não cuidar das pessoas que trabalham nela”, disse Foures.

Para o embaixador do Vietnã, o programa da CNA ajuda a conhecer melhor o processo de produção dos alimentos que seu país importa do Brasil. “É o país de maior importância pra nós na América do Sul e o segundo das Américas. Existe uma complementariedade entre nossos produtos. Importamos muito feijão, milho e máquinas agrícolas e vendemos filé de peixe, roupas e calçados”, disse Khoa.

A diplomata da Tailândia, Pitchanan Panadamrong, que participa de seu terceiro intercâmbio com a CNA, sempre munida de bloco de anotações, faz muitos questionamentos aos fazendeiros sobre os processos de produção. Segundo ela, essas viagens são importantes para aumentar a relação comercial entre os dois países. “A Tailândia é pequena e depende muito da importação de alimentos.”

Além da Captar e da Ubahia, a delegação estrangeira visitou em três dias as fazendas Mariinha e Santa Helena, que usam alta tecnologia no cultivo de frutas, especialmente mamão e bananas; o Grupo Oilema, produtor de 700 mil sacas de sementes de soja por ano, além de milho e algodão; a Fazenda Orquídeas, de grãos e algodão; o Laboratório de Análise de Fibra de Algodão, o maior da América Latina; a Cooperativa dos Produtores Rurais da Bahia (Cooperfarms); o Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo; e a Fazenda Modelo Paulo Mizote, que capacita trabalhadores rurais.

Nesta quinta, último dia do intercâmbio, os visitantes vão conhecer a Fazenda Ipê, que tem pecuária e cultivo de grãos, além de uma usina de biodiesel.

A Bahia tem três biomas em sua área: Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. O PIB do agro alcança R$ 60,8 bilhões, 25% do total baiano, segundo Guilherme Moura, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia. O algodão responde por 30,4% do valor bruto da produção agrícola, seguido pela soja, com 25,5%. O Estado é o segundo maior produtor de algodão e o primeiro de ovinos e caprinos. A maior parte das exportações baianas, 56%, vai para a China.

China ausente

Esse é o sexto programa de intercâmbio da CNA em três anos. O primeiro levou diplomatas para conhecer a produção de frutas para exportação no Vale São Francisco. Depois, houve etapas em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e Rio Grande do Sul.

A superintendente das relações internacionais da CNA diz que os convites são direcionados para países que têm forte relação comercial com o Brasil ou que têm interesse em iniciar uma relação. “O foco do nosso agro hoje é a Ásia. Como a equipe de negociação do Brasil é pequena, os esforços têm que ser concentrados naquele continente.” É a primeira vez que a China não manda representante.

Segundo ela, o Brasil tem dificuldades em agregar valor aos produtos da agricultura porque a logística brasileira é muito ruim, mas, principalmente, porque quanto mais valor se agrega ao produto no Brasil maior é a tributação.

Camila Olsen, chefe de divisão de promoção do agronegócio no Ministério das Relações Exteriores do Brasil, acompanha a delegação. Ela diz que há uma visão estratégica no pasta de se unir ao Ministério da Agricultura para promover os produtos brasileiros e mudar imagens erradas no exterior sobre o agronegócio brasileiro.

Fonte: Globo Rural