O perfil commodity da carne brasileira acabou favorecendo o País na corrida pela conquista do mercado chinês, que, neste ano, demandou muita quantidade (ou “volume”, como se diz no jargão do setor), em função do desabastecimento de proteína animal causado pela peste suína africana. Entre janeiro e novembro, a China importou do Brasil 410.444 toneladas de carne, 39,5% a mais do que em igual período de 2018.

“Somos o único player do mundo capaz de atender uma demanda tão forte”, salientou Antônio Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), durante encontro com jornalistas para apresentação do balanço do setor, em São Paulo. Na ocasião, a entidade estimou novo recorde nas vendas: 1,828 milhão de toneladas (janeiro a dezembro) por US$ 7,449 bilhões, crescimento de 13,3% e 1,3% respectivamente, em relação a 2018.

Parte expressiva desse bom resultado se deve à China, cujas compras dispararam nos últimos três meses: 44.502 t, em setembro; 70.583, em outubro e 83.112, em novembro, ante uma média de 24.000 t no primeiro semestre de 2019. “Passamos boa parte do ano com apenas 15 unidades habilitadas, mas, em agosto, elas aumentaram para 32 e, em novembro, para 37, o que possibilitou esses picos”, salientou Camardelli.

Com tamanha fome de carne, o gigante asiático assumiu o posto de maior comprador do produto brasileiro. Absorveu diretamente 24,5% do total embarcado entre janeiro e novembro e mais 18,9% via Hong Kong, totalizando 43,4% do total vendido pelo Brasil no período. Trata-se de uma presença muito forte, apenas equivalente ao que se viu no passado com a Rússia. Segundo Camardelli a perspectiva é de novo aumento em 2020, porém com menos picos. “Provavelmente, teremos uma média na faixa das 50.000 t mensais”, salientou o executivo.

Outros mercados

Depois da China e Hong Kong, os países que mais compraram carne bovina do Brasil em 2019 foram o Egito e o Chile, com 166.170 t e 103.543 t respectivamente, embora esses volumes tenham sido 4,48% e 7,94% menores do que os do ano passado, uma flutuação considerada normal, segundo a Abiec.

A retração realmente expressiva ocorreu na União Europeia, cujas importações não deverão passar de 97.630 t em 2019, o pior resultado dos últimos 10 anos.

O comércio com o Irã também apresentou queda (30,6%), em decorrência da crise provocada pelos embargos econômicos ao país, devido a seu programa de energia nuclear. A Rússia voltou a comprar timidamente em 2019 (65.954 t), pois o número de unidades frigoríficas ainda é baixo (7 até novembro).