Para combater a pandemia, a recomendação dos infectologistas é que as pessoas fiquem em casa e isso mexe com o mercado

Supermercados e açougues devem receber mais consumidores. Foto: divulgação

A crise sanitária provocada pelo novo coronavírus (Covid-19) começa mexer com a logística de distribuição de alimentos no País. A recomendação de que a população permaneça em casa recolhida é o fator determinante: sai o food service, entra o varejo, como açougues e supermercados para entregar carne bovina ao consumidor.

Caso aconteça o que as autoridades sanitárias e os infectologistas preveem, o consumo de alimento pode passar por mudanças nos próximos meses. Para o sistema de saúde suportar a quantidade de doentes em hospitais e clínicas, em vez de pico com uma quantidade enorme de pessoas infectadas, o mais seguro seria achatar essa curva deixando as pessoas em casa.

Uma  curva mais achatada por mais tempo – como os infectologistas esperam – levaria o consumidor a fazer estoque de alimento. A congelar carne, por exemplo. “As pessoas não param de comer”, diz Lygia Pimentel, da consultoria Agrifatto. “Elas podem parar as viagens, os deslocamentos, mas de comer elas não param.”

Lygia Pimentel, analista de mercado da Agrifatto. Foto: DBO.

A mudança de comportamento do consumidor indica que o food service deve perder espaço nesse momento, um dos canais de distribuição que mais tem crescido nos últimos anos. O setor  movimenta cerca de R$ 230 bilhões por ano,  embalado por empresas gigantes, como JBS, Marfrig, BRF, Aurora Alimentos, Arcofoods, KraftHeins, etc.

De acordo com a Lygia, a população começa a mudar as vias de consumo e isso muda comportamentos. “Em vez de restaurantes, vão para o supermercados”, afirma. “Nos restaurantes, as pessoas não fazem tantas escolhas. O restaurante serve frango, carne, arroz e salada. Então, o consumidor um dia escolhe o frango, noutro a carne, o suíno, etc.” Ela diz que aí está o ponto. O restaurante mantém um certo padrão de demanda aos frigoríficos. No caso do consumidor desacostumado com gôndola, a previsibilidade não é tão clara. “Esse consumidor, não acostumado com a gôndola, pode se assustar com preços, com parte dele indo para a carne de frango como produto mais acessível”, afirma.  “São incertezas do mercado nesse momento.”

A Scot Consultoria, que faz análise de mercado, também monitora restaurantes por quilo, em geral populares, e o consumo em fast food de grandes e médios centros de consumo. “Nesses restaurantes que monitoramos, o consumo de refeições já caiu entre 20% e 30% e a carne faz parte”, afirma Alcides Torres, diretor da Scot. O período a que ele se refere começa em 11 de março, quinta-feira da semana passada.

Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria

A indústria frigorífica vem acompanhando com lupa esse movimento de um food service em suspensão. Isso não ocorre apenas nos grandes centros e capitais. O food service também abastece cozinhas de fábricas de grandes e médias empresas no interior dos estados.

Com o pedido de não serem identificados, DBO ouviu fontes da indústria. Elas confirmam que o movimento é real. “Atualmente, há um deslocamento do nosso canal de vendas. O que significa que para nós o consumo continua firme”, disse a fonte.

Outra, que também pediu sigilo, afirma que há muita especulação no mercado varejista de carne. “É preciso cuidado, porque o supermercado ganhou importância nesse momento,  mas o que não se deseja  é aglomeração de pessoas. O nosso compromisso é que não falte carne à população e que ela possa fazer as compras com segurança”.

Decisões como a do Pão de Açúcar podem se intensificar. Desde quarta-feira, 18 de março, suas lojas têm horário de atendimento exclusivo para clientes com mais de 60 anos de idade, das 6 às 7 da manhã, todos os dias. A medida faz parte dos esforços da empresa no combate coronavírus.

Fonte: portaldbo.com.br