Preço do boi pode explodir em julho

A oferta restrita de boi gordo e a demanda aquecida da China pela carne bovina brasileira conseguiram segurar as cotações do gado mesmo com a pandemia da covid-19 e seus reflexos negativos sobre o consumo doméstico – especialmente para os cortes mais nobres. Analistas consultados pelo Valor avaliam que os preços do boi gordo ganharão força no segundo semestre, quando a piora sazonal dos pastos já costuma reduzir a oferta. Além disso, a tendência é que os pecuaristas enviem menos animais para os confinamentos – sistema intensivo de engorda com alimentação baseada em grãos.

Imagens da internet

No Brasil, a oferta de gado de confinamento se concentra no segundo semestre – em geral, 15% do gado abatido de junho a dezembro vem do sistema intensivo, de acordo com estimativas do setor. Para os confinadores, o problema é que os custos com ração e boi magro estão altos e o preço do boi gordo no mercado futuro da B3 é pouco atraente para as operações de hedge, disse Lygia Pimentel, sócia-diretora da consultoria Agrifatto.

O momento também é de maior volatilidade, o que encarece a compra de opções na bolsa e exige mais caixa para os ajustes diários no mercado futuro, explicou Lygia, autora de um livro recém-lançado sobre o hedge para pecuaristas.

Em entrevista ao Valor, o analista César Castro Alves, do Itaú BBA, admitiu ter ficado surpreso com o nível de resistência dos preços do boi gordo, sobretudo quando se considera que a fraqueza do mercado interno fez forte pressão sobre as cotações de frangos e suínos, que recuaram mais de 20% no mês passado – nas primeiras duas semanas de maio, as cotações ensaiaram uma recuperação. No caso do boi gordo, o preço médio ficou estável.

No Estado de São Paulo, referência para o restante do país, o indicador Esalq/B3 ficou em R$ 199,56 por arroba em abril, leve baixa de 0,3% ante o mês anterior, mas alta de quase 27% na comparação anual. No acumulado de maio, a cotação média do boi gordo está em R$ 200,16, ligeiro aumento de 0,3%. Na avaliação de Alves, a diferença de comportamento entre as proteínas está relacionada ao cenário de oferta, restrita para o boi e ampla para aves e suínos – ao menos neste primeiro semestre. Nesse cenário, os abates estão caindo, o que reduz a oferta de carne bovina, segurando o preço do produto também ao consumidor. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que os frigoríficos do país abateram 7,2 milhões de bovinos no primeiro trimestre, queda de 9,2% na comparação com o mesmo período de 2019. Os abates de frangos e suínos cresceram 4,8% e 5%, respectivamente.

A produção em Mato Grosso, dono do maior rebanho bovino do país, dá uma dimensão da menor oferta de gado. Conforme a Agrifatto, os abates no Estado caíram 25% na comparação anual, chegando ao menor nível desde maio de 2018, durante a greve dos caminhoneiros. Aliada ao aumento das exportações de carne bovina para a China, a redução dos abates equilibrou a relação entre a oferta e a demanda, mantendo os preços do boi gordo nos atuais níveis, avaliou Lygia, da Agrifatto. “O ágio pago pelo boi na China segura a cotação do boi comum”, disse a analista, destacando que o preço do boi comum gira em torno de R$ 190 por arroba no Estado de São Paulo. Para os bois com características para exportar à China – há limitação de idade para vender ao país asiático -, os preços oscilam entre R$ 200 e R$ 210.

Em abril, os chineses absorveram cerca de 10% da produção brasileira de carne bovina, de acordo com estimativa da consultoria Agrifatto. No curto prazo, pode haver alguma pressão baixista. Analistas apontam que, em maio, a piora das condições das pastagens pode levar os pecuaristas a venderem o gado que estavam segurando, o que poderia provocar uma queda pontual nos preços do boi. Depois disso, no entanto, a oferta restrita de bovinos deve voltar a ditar o ritmo das cotações e há quem diga que, no auge da entressafra – entre outubro e novembro -, os preços podem voltar ao patamar recorde de R$ 230 por arroba registrado no fim do ano passado. Sócio da Finpec, startup que capta recursos junto a investidores para criar e vender o gado engordado em confinamentos, Michel Tortelli disse que uma importante redução da oferta já está contratada para julho por causa da menor lotação dos confinamentos. “O preço do boi tem grande chance de explodir em julho”, projetou. Com informações do Valor. Notícia publicada em: 15/05/2020
Fonte: Esta notícia foi publicada no http://www.pecuaria.com.br