Para o diretor de política agrícola da Conab, uma das metas da equipe do governo é georreferenciar a produção e a produtividade das áreas de criação de gado

No final desta terça-feira (22/9), o “DBO Entrevista” recebeu o agrônomo Sérgio De Zen, diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De Zen foi convidado a integrar a equipe da ministra da Agricultura Tereza Cristina em dezembro do ano passado. O cargo na Conab ele assumiu em maio.  O executivo falou sobre armazenamento de grãos, agricultura familiar e o plano para georreferenciar as áreas de pastagens no Brasil, tema abordado no terço final da entrevista. 

Presidente CONAB – Sérgio De Zen – Foto Internet

“Talvez poucos saibam, mas a Conab tem georreferenciado todos os armazéns de grãos do Brasil, públicos e privados. Interessa saber as quantidades estocadas porque são informações essenciais para a gente ter um balanço de oferta e demanda dentro do mercado brasileiro.”

De acordo com o executivo, “a gestão é para que haja equilíbrio entre a oferta e demanda, porque nos últimos anos o Brasil ganhou uma proeminência enorme na exportação e esse balanço brasileiro de oferta e demanda não é só importante para o País, mas para o mundo também”

De Zen afirma que na Europa e nos Estados Unidos o Estado já não detém os estoques. E que depende de ferramentas do mercado para regularizar o sistema. “A minha função aqui é construir uma base de informação usando aquilo que nós temos e que não estava sendo aproveitado.”

Para ele, a Conab não pode deixar de ter suas atribuições histórias, mas que nos dias atuais as ferramentas de mercado são outras. “Não podemos usar o mesmo remédio que nós usávamos há 30 anos. Nós temos que mudar a dose para a situação atual, onde você tem câmbio flutuante e outras liberdades de mercado. A Conab não toma decisão, cria informação e oferece para os tomadores de decisão.”

Unidade da Conab na Bahia. Foto: divulgação

De Zen também falou do processo histórico de construção de armazéns no Brasil. Neste ano, o governo fechou 27 armazéns, restando 62 ativos, com capacidade estática da ordem de 1,7 milhão de toneladas. Ele diz que é plano do governo tirar da mão do Estado o que for obsoleto e investir em inteligência de mercado. “Veja a ministra com a história do arroz. Em outros tempos poderia tomar uma série de medidas atabalhoadas. O Estado brasileiro, dessa vez, baixou a taxa  [de importação] para uma quantidade de toneladas de arroz específica. E num prazo para terminar, ou seja, estimamos com relativa precisão. Porque a gente sabe que a próxima safra vai aumentar em cerca de 1 milhão de toneladas.”

“O produtor vai plantar com um câmbio a R$ 5,40 [o dólar] e colher,  segundo o boletim Focus, com câmbio abaixo de R$ 5,00 no ano que vem, uma supersafra e quadro de demanda reduzindo. Então, nós precisamos trabalhar para mitigar e equilibrar o desajuste momentâneo que não pode ser passado para a safra seguinte.”

De Zen também falou sobre a atual safra de grãos, de 257 milhões de toneladas e da consolidação de uma terceira safra no que hoje vem sendo chamado de Sealba, denominação para as áreas de produção de grãos nos Estados de Sergipe, Alagoas e Bahia, e que já responde por 3,5% da produção nacional. Também falou sobre o georreferenciamento de soja e milho, realizado pelo governo e disse que o georreferenciamento de pastagem está no foco de sua equipe. 

Pecuária na pauta

“A gente está investindo e a Conab vai ter que ter estatística também de pecuária.  Ela faz parte do ciclo produtivo. A gente tem 300 produtos e tem que incorporar os produtos da pecuária. Afinal de contas, é quase metade do PIB agrícola e a gente tem que ter dados para isso.” Atualmente, de acordo com o IBGE, há  cerca de 200 milhões de hectares de pastagens nativas ou implantadas, dos quais estima-se que cerca de 130 milhões estejam degradados e necessitem de alguma intervenção para reverter seu estado.

No georreferenciamento é medida a área de produção e a produtividade, dando base de análise seguras. De Zen afirma que o trabalho não é apenas do matemático, do econometrista e do economista. É necessário o apoio do agrônomo, do  veterinário e do zootecnista. Porque não existe modelagem matemática e não seja a contemplação da realidade. “Então eu preciso ter uma multidisciplinaridade das equipes e estamos conversando nesse sentido.”

Foto divulgação internet

“Eu brinco com a equipe que a gente vai ter que acompanhar a pecuária de corte e leite, porque em alguns casos consomem soja o ano inteiro na suplementação.” O executivo ressalta que uma pecuária de corte moderna tem o creeping para o bezerro, a IATF, a escolha da genética, a suplementação no pasto. “Você tem que desmamar o bezerro com mais de 220 quilos e depois uma recria e uma engorda relativamente curtas. E tem o período de 90 dias para dar o acabamento de gordura que demanda grãos. Então,  existe uma integração no sistema produtivo que é fantástico.”

E que o georreferenciamento deve mostrar muitas realidades que hoje são percebidas. “Se você tem uma pastagem no sistema produtivo pecuário e produz 20 arrobas por hectare, você acha que essa área vai ser transferida para qualquer outros tipo de atividade?” Para ele, nem toda área de pastagem irá para a agricultura e que mesmo assim ela  pode ser competitividade

Além disso, De Zen atenta para uma gestão mais refinada da atividade e o seu reconhecimento. “Um bom gestor de pecuária de leite, em primeiro lugar, em seguida de corte, consegue gerenciar qualquer coisa”. Os sistemas produtivos do leite e da carne bovina são os mais complexos que existem para gerenciar. “A pastagem é uma agricultura e uma agricultura que tende a ser de precisão.”  

“Então tudo isso mostra que a pecuária está respondendo para que ela se torne viável. Porque produzir proteína emprega gente, agrega valor ao grão.”

Fonte: portaldbo.com.br