Confinadores invertem o ciclo de produção, em busca de custos menores, enquanto o cenário de 2021 já está dado e não promete grande salto na oferta de bovinos para abate

Deste mês de novembro, até abril de 2021, não são boas as perspectivas de oferta de gado para a indústria frigorífica. O fluxo de animais para o abate deve seguir restrito. De abril a maio são, por exemplo, os meses de entrega dos primeiros lotes de bovinos das fazendas gerenciadas pelo médico veterinário Lucas Rabelo, gerente de Grandes Contas da Prodap, empresa mineira de nutrição, gestão e tecnologia pecuária.

“Está bem nítido que a indústria vai ter dificuldade de comprar gado no ano que vem”, diz Rabelo, da Prodap.

O veterinário gerencia, de perto, um rebanho de cerca de 300 mil bovinos de um total 1,2 milhão de animais acompanhados pela Prodap. Desses 300 mil, a maioria, 250 mil, são de animais de confinamento de fazendas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Pará. Segundo Rabelo, os números estão estáveis: são praticamente os mesmos de 2019 e devem se manter em 2021.

Lucas Rabelo, médico veterinário e gerente de Grandes Contas da Prodap

“Já foram abatidas cerca de 90% dos 250 mil até o mês de outubro, e o fluxo será menor a partir de agora até janeiro”, diz Rabelo. Os cerca de 25 mil animais restantes vão, aos poucos, sendo negociados. Mas, no caso das fazendas acompanhadas por Rabelo, fluxo grande  de gado só mesmo em meados de abril e maio.

“A safra nessas fazendas de gado quase que se inverteu porque, agora, no período de safra teremos animais em recria e não animais para terminação”, explica Rabelo.

Redução de custos

O atraso do ciclo é para promover corte de custos. O plano foi antecipar ao máximo as vendas de animais entre os meses de julho e outubro, para gerar caixa, e já comprar os animais de reposição para abater em 2021. “Se deixássemos para comprar agora, em novembro e dezembro, quando começasse a chover, os preços certamente estariam em patamares mais elevados e difícil de se encontrar.”

O plano deu certo. As compras saíram 15% mais baratas, de uma média de preços de R$ 2.150 por bezerro, tomando por base o preço do Indicador do Bezerro Esalq/BM&FBOVESPA, dos atuais R$ 2.475. O indicador é elaborado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), de Piracicaba (SP).

O volume comprado, de julho a outubro deste ano, se iguala aos 250 mil animais de 2020. “Acredito que agora, até o final de março e abril, será um período  de oferta restrita, talvez até mais do que foi o ano passado”, avalia Rabelo.

Oferta de animais de reposição deve seguir limitada em 2021

Tendência geral

A avaliação de Rabelo é também compartilhada pelo médico veterinário Hyberville Neto, analista de Pecuária da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP). Para Neto, a oferta de bovinos pode até apresentar uma leve melhora, mas ainda deve ser limitada.

“O ano de 2021 vai ser um período de reposição ainda limitada, talvez um pouco melhor que esse ano. Mas nada que dê muita folga para quem quer comprar gado. Por isso, também não devemos ter um ano de grande folga nos custos. Eles devem seguir em patamares elevados”, diz Neto, da Scot Consultoria.

Ainda pesam, segundo o analistas, incertezas como o próprio câmbio e o clima para o próximo ano. Mas a tendência é que os estoques de bovinos ainda permaneçam em baixa.

Fonte: portaldbo.com.br