Retorno da China às compras de carne bovina brasileira pode ajudar a aquecer a demanda por boiadas, fortalecendo o preço da arroba

Na última semana de fevereiro, o mercado do boi gordo operou com volatilidade de preços, reflexo principalmente do impasse gerado pelos problemas operacionais vivenciados pelo setor industrial, que atualmente encontra enorme dificuldade em repassar, ao restante da cadeia (atacado/varejo), a forte elevação nos custos ocasionada pela explosão nos preços da arroba bovina – ainda acima de R$ 300 em São Paulo, referência para outras praças pecuárias do País.

“O baixo poder aquisitivo da população brasileira, associado à alta taxa de desemprego, gera impactos ainda mais negativos no consumo doméstico, estimulando a migração dos consumidores para carnes economicamente mais baratas”, relata a IHS Markit.

Além disso, o mercado sofre severas complicações em função da restrita oferta de animais terminados. A atual dificuldade em comprar boiadas gordas foi agravada este ano por um conjunto de fatores, como o atraso no ciclo de engorda extensiva a pasto, a forte retenção de matrizes, e os altos custos com nutrição animal (devido ao encarecimento do milho e da soja, principalmente). “Os frigoríficos não encontram as condições necessárias para barganhar preços mais baixos da arroba”, observa a IHS.

O outro motivo para o travamento do mercado do boi gordo é a melhoria na capacidade de suporte das pastagens, o que favorece a decisão do pecuarista em postergar a venda, esperando o melhor momento de negociação. Porém, a expectativa do setor é que a oferta de boiadas terminadas esboce alguma melhora a partir do mês de março, seguindo a típica sazonalidade, com a maior entrada de lotes terminados no pasto.

Neste contexto, a opção das muitas unidades de abate é regular ao máximo os seus processos de compra de gado, informa a IHS. “Há relatos de plantas abatendo três vezes por semana, além daquelas que estão operando com cerca de 50% de sua capacidade estática de abate”, informa a consultoria. Mesmo os abatedouros habilitados para exportação também relataram que reduziram os abates diários em função de problemas com originação de matéria-prima. Outros frigoríficos estão de férias coletivas e só devem retomar as operações em março, ressalta a IHS.

No mercado atacadista, mesmo com a aproximação de mais uma virada de mês (época marcada pelo pagamento dos salários aos trabalhadores), o ritmo das vendas dos cortes bovinos ainda está abaixo das expectativas do setor, o que vem contrariando as indústrias frigoríficas, que temem ter que realizar novos ajustes (para baixo) nos preços para gerar maior vasão da produção. Em relação aos preços dos principais cortes bovinos, ainda houve uma aparente estabilidade, embora o traseiro registrou baixa em função do registro de sobras em algumas regiões, informa IHS.

No front externo, com a oferta de boiada gorda reduzida e o feriado do ano novo chinês, as exportações de carne bovina brasileira continuaram em ritmo desacelerado. No acumulado das três primeiras semanas de fevereiro, o Brasil exportou 71,31 mil toneladas de proteína bovina in natura, com uma média diária de 5,49 mil toneladas, desempenho 10,7% inferior à de fevereiro de 2020. No entanto, observa a IHS Markit, há grande expectativa em torno do potencial retorno das importações da China com o término das comemorações do ano novo lunar. “Em algumas regiões do Brasil, já existem unidades retomando as compras de gado para atender os primeiros carregamentos solicitados pelo país asiático”, informa a consultoria.

Aém disso, o avanço do dólar frente o real ajudou a melhorar a competitividade da carne brasileira no ambiente externo, estimulando a demanda por boi gordo em algumas regiões de São Paulo, informa a consultoria Agrifatto. “Negócios com tipificação para exportação já são vistos acima dos R$ 305/@”, destaca a consultoria. No entanto, no mercado interno, observa a Agrifatto, as negociações continuam a “conta-gotas”, e a carcaça casada bovina segue nos R$ 18/kg, enquanto o varejo demonstra dificuldades em transpor maiores preços sobre os cortes.

Dia a dia do mercado

Nesta sexta-feira (26/2), o volume de negócios no mercado físico de boiada gorda foi praticamente nulo, relata a IHS Markit. Os poucos e isolados reporte de negócios continuaram bem localizados, visando atender alguma urgência pontual de uma ou outra unidade de abate, acrescenta a consultoria. O mercado encerra o mês sem mudanças significavas, devido à fraca atuação de ambas as pontas do mercado.

Os elevados volumes de chuvas em fevereiro, além de favorecer a recuperação das condições de pastagem, acaba colaborando indiretamente para retenção de animais no campo. Tal condição normalmente daria suporte para altas nos preços, mas que acaba sendo neutralizada em grande parte pela pouca agressividade dos compradores, enfatiza a IHS.

Na avaliação da consultoria, talvez este comportamento mais conservador por parte das indústrias frigoríficas venha a se alterar, com um impacto positivo na demanda interna gerado pela entrada da massa salarial e aprovação do auxílio emergencial, além de uma eventual recuperação das exportações. “Há relatos de novos carregamentos da proteína sendo contratados pelos chineses. Indústrias brasileiras também estão se mobilizando para renegociar os preços da carne para venda no mercado internacional a fim de adequar custos”, revela a IHS.

O fato é que um comportamento minimamente ativo dos compradores de gado nos próximos dias será suficiente para provocar pressões de alta sobre os preços da arroba bovina no mercado físico, prevê a consultoria.

Giro pelas praças

Entre as praças pecuários do Brasil, destaque para Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, onde as indicações de compra de boiadas reagiram e possibilitaram uma aparente melhora da liquidez. Entre as praças destes Estados, a região de Cuiabá e Rondonópolis, no MT, mantém uma consistente valorização, informa a IHS.

Elevação do boi gordo nos principais países produtores

A forte demanda e a oferta limitada de gado fizeram com que os preços do boi gordo aumentassem na maioria dos principais países produtores de gado, informa boletim desta sexta-feira do Rabobank.

As cotações do gado australianos e brasileiros (em dólares americanos), em particular, subiram 36% e 23%, respectivamente, na comparação aos valores registrados há um ano, relata o banco de origem holandesa.

Cotações desta sexta-feira (26/2), segundo dados da IHS Markit:

SP-Noroeste:

boi a R$ 300/@ (prazo)
vaca a R$ 281/@ (prazo)

MS-Dourados:

boi a R$ 281/@ (à vista)
vaca a R$ 269/@ (à vista)

MS-C. Grande:

boi a R$ 282/@ (prazo)
vaca a R$ 268/@ (prazo)

MS-Três Lagoas:

boi a R$ 281/@ (prazo)
vaca a R$ 266/@ (prazo)

MT-Cáceres:

boi a R$ 291/@ (prazo)
vaca a R$ 280/@ (prazo)

MT-Tangará:

boi a R$ 292/@ (prazo)
vaca a R$ 281/@ (prazo)

MT-B. Garças:

boi a R$ 290/@ (prazo)
vaca a R$ 279/@ (prazo)

MT-Cuiabá:

boi a R$ 296/@ (à vista)
vaca a R$ 279/@ (à vista)

MT-Colíder:

boi a R$ 289/@ (à vista)
vaca a R$ 276/@ (à vista)

GO-Goiânia:

boi a R$ 290/@ (prazo)
vaca R$ 278/@ (prazo)

GO-Sul:

boi a R$ 290/@ (prazo)
vaca a R$ 278/@ (prazo)

PR-Maringá:

boi a R$ 281/@ (à vista)
vaca a R$ 263/@ (à vista)

MG-Triângulo:

boi a R$ 298/@ (prazo)
vaca a R$ 280/@ (prazo)

MG-B.H.:

boi a R$ 295/@ (prazo)
vaca a R$ 276/@ (prazo)

BA-F. Santana:

boi a R$ 279/@ (à vista)
vaca a R$ 271/@ (à vista)

RS-Porto Alegre:

boi a R$ 287/@ (à vista)
vaca a R$ 272/@ (à vista)

RS-Fronteira:

boi a R$ 287/@ (à vista)
vaca a R$ 272/@ (à vista)

PA-Marabá:

boi a R$ 278/@ (prazo)
vaca a R$ 272/@ (prazo)

PA-Redenção:

boi a R$ 278@ (prazo)
vaca a R$ 273/@ (prazo)

PA-Paragominas:

boi a R$ 276/@ (prazo)
vaca a R$ 273/@ (prazo)

TO-Araguaína:

boi a R$ 280/@ (prazo)
vaca a R$ 271/@ (prazo)

TO-Gurupi:

boi a R$ 279/@ (à vista)
vaca a R$ 268/@ (à vista)

RO-Cacoal:

boi a R$ 277/@ (à vista)
vaca a R$ 263/@ (à vista)

RJ-Campos:

boi a R$ 283/@ (prazo)
vaca a R$ 268/@ (prazo)

MA-Açailândia:

boi a R$ 272/@ (à vista)
vaca a R$ 256/@ (à vista)