03 ABRIL 2021

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Boa parte das nascentes de água do país, ¼ do território nacional, com cerca de 2 milhões de km² distribuídos por 11 estados, além do DF, reunindo 5% das espécies e 30% de toda a biodiversidade brasileira. Esta é parte do perfil do Cerrado, um bioma cuja geração de riqueza parecia ser inatingível para quem viveu o começo dos anos 70.

“Nós tínhamos na década de 70 um grande desafio, que era tornar essa região produtiva do ponto de vista sustentável. Tanto econômica e ambiental quanto socialmente. Nós tínhamos aqui na década de 70 uma pecuária extensiva, pouco produtiva, e culturas de arroz de sequeiro, que eram de alto risco em relação ao clima e ao próprio solo porque nós não tínhamos a tecnologia para cultivar nos solos ácidos do Cerrado, eram solos muito pobres do ponto de vista químico, como muito alumínio tóxico, e isso exigia um conjunto de práticas que nós não tínhamos naquele momento. Era uma região que tinha chuva, que tinha topografia plana, plenamente mecanizável, mas faltava tecnologia. Então o papel da Embrapa e, nesse caso, da Embrapa Cerrados, era desenvolver a tecnologia para tornar essa região produtiva”, lembrou o chefe-geral Embrapa Cerrados Sebastião Pedro em entrevista ao primeiro episódio da nova da série especial de reportagens Embrapa em Ação, que foi ao ar nesta sexta, dia 02.

A história deste que é o segundo maior bioma da América do Sul, perdendo somente para a Amazônia, começou a mudar com a fundação, em 1975, de uma das mais relevantes instituições de pesquisas agropecuárias de todo o mundo, a Embrapa, especificamente a unidade Cerrados. O trabalho dos cientistas começou por buscar formas de adaptar vegetais para alimentação e animais de criação ao ambiente de solos profundos, de poucos nutrientes, com estações bem definidas de chuva e seca para, hoje, transformá-lo em uma das maiores fronteiras agrícolas do mundo e referência mundial em produtividade.

Brasil tem ao menos mais uma fronteira agrícola a ser descoberta

23 de agosto de 1976. Viemos aqui para fazer a caracterização da Fazenda Água Limpa, […] em uma parceria que existia, para entender quais eram as principais espécies que o Cerrado apresentava. Foi quando a gente despertou para essa conexão que a produção agrícola pode ter com as espécies nativas e com aquilo que o Cerrado ajuda a conservar melhor, que é a nossa água. Hoje nós entendemos como funciona o ciclo biológico dentro dessas matas e como as espécies que estão ali têm essa dependência, inclusive para a sua recuperação, se necessário. E depois disso originou um projeto maior, que foi o projeto de conservação e manejo da biodiversidade. Aí saímos de uma iniciativa particular para o bioma como um todo. E, dentro desse bioma, ainda como estavam as pessoas. Então era um projeto que se preocupava com a biodiversidade, inclusive cultural”, contextualizou o pesquisador da Embrapa Cerrados Felipe Ribeiro.

A nova temporada da série Embrapa em Ação vai mostrar os principais trabalhos desenvolvido hoje pela unidade de pesquisa e que, agora, ajudam a sustentar a produtividade do bioma. “Nós temos hoje na unidade três núcleos temáticos. O núcleo de produção vegetal, o núcleo de manejo de recursos naturais e o núcleo de sistemas de produção animal, do qual eu estou supervisor, apoiando 20 pesquisadores trabalhando em diversas áreas, passando desde a parte de melhoramento de forrageiras – aqui, por exemplo, nós temos uma das forrageiras que foram selecionadas através de um programa de melhoramento – e a parte de programa de melhoramento animal. Nós temos aqui o BRGN. É o Brasil Genética Nelore, é uma série da raça Nelore que começou um trabalho de seleção dentro de um programa de melhoramento da nossa unidade, que visa animais adaptados à região do Cerrado através da funcionalidade, da precocidade, da docilidade dos animais. A gente pode observar que estamos aqui com animais desta raça que é famosa por ser bastante bravia, de difícil manejo, mas nós temos aqui animais bastante funcionais que atendem aos produtores. […] Facilita bastante o manejo”, ilustrou o pesquisador Kleberson de Souza.

“Nós temos outras áreas que passam desde as ferramentas biotecnológicas para a reprodução animal, voltadas para a atividade de pecuária. Dentro do Cerrado, nós somos responsáveis por aproximadamente 55% da carne que é produzida no Brasil, então a pecuária tem um papel bastante importante nisso. Além das ferramentas para a reprodução, passando desde a inseminação artificialfertilização in vitro e até mesmo a clonagem, […] a gente trabalha também com um tema que engloba quase tudo, que são os sistemas integrados, que é esse ambiente que nós estamos aqui. Aqui a gente está em uma unidade de referência tecnológica de integração lavoura-pecuária-floresta voltada para o gado de corte. Mas nós temos outras unidades também voltadas para a produção de leite. […] Aqui a gente trabalha avaliando todos os componentes do sistema, analisando o desempenho animal, qual foi o ganho de peso dentro do sistema ou o desempenho da pastagem, qual foi a produtividade de massa, de forragem que foi produzida dentro dos diferentes sistemas. Vocês podem observar que nós temos o sistema com árvore e sem árvore também. E também estudamos a sustentabilidade do sistema. Hoje a gente já sabe, através deste experimento, que com apenas 15% da área com esse sistema dentro de uma fazenda, ele é capaz de neutralizar todos os gases de efeito estufa da atividade pecuária como um todo na propriedade”, exemplificou Souza.

Outra setor dentro da unidade que contribui com o crescimento constante da geração de riquezas com sustentabilidade pelo bioma é o laboratório de solos. “Junto com essa questão de solo, a agricultura começou a se desenvolver e vieram os programas de melhoramento, buscando adaptar tanto a condição animal quanto vegetal para este ambiente. As forrageiras, que são importantes porque você possibilita intensificar a pecuária, colocar mais animais por metro quadrado. Qual a importância disso? Você libera mais área para a agricultura sem ter que desmatar. Tem um benefício ambiental muito grande. Então nós temos programas de maracujá. A soja lá em 70 existia praticamente só no Sul do País, de variedades vindas de climas temperados. Hoje nós temos soja em todo o País graças a esse programa de melhoramento. […] Na questão econômica da sustentabilidade da planta, tem outros programas, que a gente não pode deixar de citar. Por exemplo, fixação de nitrogênio. Só este programa, por ele mesmo, permite uma economia anual para o país em torno de US$ 7 bilhões. Então essas são as pesquisas produzidas pelo nosso centro, que é um centro ecorregional, que trabalha forte em diversas áreas, mas sempre pensando nos recursos naturais, na sustentabilidade da produção. O Cerrado é estratégico para qualquer programa de segurança alimentar do nosso país”, observou Lineu Rodrigues, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Cerrados.

Fonte: girodoboi.com.br