20 JULHO 2021

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Foto divulgação internet (Giro do Boi)

Os custos variam bastante e, por isso mesmo, nem sempre a melhor decisão a ser tomada é tão fácil de se encontrar. Mas em entrevista exibida no Giro do Boi desta terça, dia 20, o zootecnista Rodrigo Patussi, sócio-diretor da Terra Desenvolvimento, consultoria envolvida no benchmarking da pecuária, um dos maiores trabalhos de levantamento e comparação de índices da pecuária de corte brasileira, esclareceu a dúvida de um telespectador: qual o custo de uma vaca vazia dentro da fazenda? A pergunta veio do técnico agrícola Alisson Viana, de Itapetinga-BA.

Patussi colocou os dados que utilizou para responder a pergunta em contexto, informando de que amostragem retira os números. “A gente compara os indicadores e os resultados das fazendas das fazendas do Brasil, Paraguai e Bolívia. Mais de 800 fazendas já participaram do levantamento (benchmarking) nas últimas safras. Na última, especificamente, foram mais de 470 fazendas, então a gente se baseia nisso. Naturalmente que isso é uma referência, são indicadores para a gente se referenciar, mas cada situação tem as suas particularidades. Em todo caso, a gente tem muita segurança que esses números representam, sim, a pecuária brasileira”, assegurou.

Patussi disse que é preciso diferenciar de que tipo de vaca vazia está vindo este custo. “A gente precisa entender o seguinte: o custo de uma vaca que ficou vazia ao longo do tempo dentro da fazenda ou o custo daquela vaca a partir do momento que ela é considerada descarte dentro daquele processo produtivo. Então pode ser que essa vaca entrou em estação de monta, ela estava com bezerro no pé e naquele momento o custo dessa vaca está sendo pago por aquele bezerro, que vai ser desmamado, e a partir do momento que é desmamado, ela está vazia e começa a ter um custo para aquela propriedade. Se a gente estiver falando desse custo, a primeira coisa que a gente precisa entender é qual o custo por cabeça por mês, ou seja, qual é a referência dele em relação a isso. Normalmente a gente usa o custo/cabeça/mês, que é quanto eu gastei dentro daquela propriedade, quanto eu tive de desembolso ou de custeio, dividido pelo rebanho médio, dividido por 12 meses. Quando eu tenho esse custo, já fica mais fácil eu fazer essa conta. Mas como uma vaca está muito mais próxima a uma unidade-animal do que exatamente a uma cabeça, então eu faço um ajuste nisso e transformo. Ao invés de custo por cabeça/mês, eu uso custo por uma unidade-animal por mês”, justificou.

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CUSTO DA VACA VAZIA

“Para você ter ideia, no último benchmarking nós tivemos a média das fazendas de cria do Brasil tendo um custo por cabeça/mês na casa dos R$ 46,00. Quando eu passo isso para unidade animal, o custo por unidade animal por mês, isso vai chegar na ordem dos seus R$ 65,00 a R$ 66,00 por unidade animal. Então, teoricamente, uma vaca de descarte teria que custar aproximadamente R$ 66,00 por mês dentro da fazenda. Naturalmente, também usando o benchmarking, 20% desse desembolso é insumo de rebanho. Por que eu digo isso? Porque eu posso estar usando mais ou menos suplementação, por exemplo, para esse animal. Essa é a primeira coisa, então eu sei quanto ela custa por mês”, apontou.

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“O custo total dela depende também do volume de meses que ela fica dentro da minha propriedade. Então a gente tem aquela teoria que fala que uma vaca descarte normalmente fica em torno de três meses dentro da fazenda, o que normalmente não é verdadeiro. Dependendo da estação de monta, dependendo do momento que aquela vaca entra realmente na engorda, ela pode ficar mais ou menos. Por exemplo, para eu ter uma estação de monta mais adequada, com mais nascimentos do bezerro cedo, os bezerros são desmamados para depois a vaca ser colocada no descarte. Então se eu desmamo, por exemplo, em maio, aquela vaca tem maio, junho, julho, agosto, quer dizer, no final das águas, início da seca, então ela tem uma chance de ficar menos tempo na fazenda pela qualidade de forragem, a velocidade de ganho dela e tudo mais. Quando os bezerros dessa vaca são desmamados em junho ou julho, por exemplo, você entende que essas vacas já entram no período de engorda numa situação de pastagem e qualidade de pasto, de oferta, bem diferente, o que muitas vezes faz com que essas vacas fiquem muito mais tempo na fazenda do que a gente espera”, ponderou.

Patussi quantificou ainda o custo média para a engorda desta vaca de descarte, dependendo do seu desempenho. “Se eu tenho uma fazenda, por exemplo, onde ela tem um custo aproximado de R$ 66,00 por cabeça ao mês e ela tem um desempenho em torno de 500 gramas por dia (de ganho de peso), quer dizer que ela vai ganhar em torno de 15 kg por mês. Para que ela coloque uma ou duas arrobas, você vai fazer essa conta, a arroba produzida dela vai sair na casa dos R$ 132,00 a R$ 135,00. Porém, se essa mesma vaca tem um desempenho de 400 gramas por dia, essa arroba no mesmo custo/cabeça/mês vai custar R$ 164,00. Da mesma forma, se ela estiver gastando R$ 66,00 ganhando 600 gramas, essa arroba produzida dela cai para R$ 109,00. Então isso depende muito, a gente é muito acostumado a falar em custo de um animal dentro da fazenda, mas a gente pode também pensar um pouco mais no custo arroba produzida desse animal dentro da fazenda. A gente tem que tomar um pouco de cuidado em relação a isso”, aconselhou.

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DAR MAIS UMA CHANCE OU ENGORDAR?

“Dentro de uma fazenda de cria a gente quer ter animais em produção, então manter uma vaca que ficou vazia e continuar com ela durante cinco, seis meses até a entrada de uma nova estação pode até ser uma estratégia por conta do mercado, dos custos da reposição ou até da qualidade desse animal, mas normalmente isso não é usual. A gente prefere realmente liquidar esse animal e colocar um animal mais produtivo nesse processo, principalmente se for um animal mais jovem, que ainda tem ganho de peso. E aí vem uma questão da vaca vazia: mantém ou não essa vaca dentro da fazenda, engorda ou não engorda essa vaca na fazenda, qual a melhor estratégia de se terminar essa vaca vazia dentro da fazenda?”, indagou.

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O consultor respondeu na sequência. De acordo com Patussi, mesmo que o produtor tenha um empate ou uma margem muito pequena entre custo e receita na operação da engorda da vaca vazia, engordá-la pode fazer a pena. “Isso depende bastante da estratégia de cada um, mas a gente precisa levar em consideração vários pontos, que não são simplesmente o custo direto desse animal dentro da fazenda. O período que esse animal passa normalmente vazio dentro da fazenda é um período crítico. Na maioria das fazendas do Brasil, a gente tem ali a produção forrageira comprometida nesse período de seca, normalmente quando ela acaba de desmamar o bezerro. Então vamos supor que o animal que entra ali para engorda em junho, julho passa quase que todo o inverno dentro da fazenda, tem restrição alimentar, mas a fazenda produz alimento e através desse volume de alimento termina o rebanho dela. Então muitas vezes essa vaca está ali consumindo um alimento que seria essencial para um outro animal de recria. Às vezes ela está comendo, e ela come mesmo pelo peso e tudo mais, alimento para duas ou três bezerras ou bezerros. Então isso a gente tem que tomar muito cuidado, para dimensionar essa oferta e demanda forrageira. Por esse motivo, em alguns momentos, a gente até em alguns projetos busca uma alternativa diferente para ela. Por exemplo, terminá-la, apesar de produzir uma arroba custando muito mais caro dos que os R$ 130,00 ou R$ 160,00 que eu citei anteriormente, e produzir uma arroba quase ao preço de venda, mas por conta disso, sair com ela do pasto o mais rápido possível e liberar essas pastagens para que outros animais tenham um melhor desempenho, um desempenho de um animal de melhor conversão alimentar e tudo mais”, acrescentou.

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“A gente também às vezes tem a opção de uma venda desses animais […] e eu não estou dizendo que isso é pior ou melhor. Cada situação tem a sua particularidade, mas a gente não deve pensar só no custo direto de produção daquele animal. Até porque a gente busca o resultado pela fazenda, pelo negócio e muitas vezes eu aceito uma conta pior em alguma categoria, então eu aceito produzir uma arroba mais cara nesse período dessa vaca e tudo mais em detrimento à produção de uma arroba mais barata de um bezerro, de uma bezerra, ou a garantia de um melhor dimensionamento, uma melhor adequação entre aquilo que eu produzo de pasto, aquilo que eu tenho de rebanho para que o verão comece melhor. Então essa é uma estratégia produtiva”, concluiu.

Fonte: Giro do Boi (www.girodoboi.com.br)