A mudança do processo de retenção para o descarte de matrizes deve marcar o mercado do boi gordo, pressionando os preços da arroba dentro dos próximos dois anos; tema foi debatido no DBO Entrevista.

Portal DBO já cantou a bola sobre a sinalização de mudança do ciclo pecuário, abandonando o processo de retenção de fêmeas para produção de bezerros, para entrar no próximo estágio de descarte de fêmeas.

Nos próximos dois anos, essa transição deverá se caracterizar por períodos mais desafiadores para o pecuarista, que já tem à frente uma forte tendência de alta nos custos da alimentação do rebanho.

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Essa é avaliação dos economistas Thiago Bernardino de Carvalho, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), e Yago Travagini, analista de pecuária da consultoria Agrifatto.

Foto: Divulgação

“Estamos saindo de um processo de retenção muito intenso de fêmeas, ou seja, o criador estava retendo muitas fêmeas porque o bezerro estava num processo de valorização muito grande, e, agora, devemos entrar no momento de descarte. É um processo lento que demora para acontecer, mas eu acho que essa inquietude do mercado é para tentar entender quando e como ele vai acontecer”, avalia Yago.

Os analistas de mercado participaram do DBO Entrevista, que foi ao ar nessa segunda-feira, 14/2 (confira no final do texto o link para acompanhar o programa na íntegra).

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“Os anos serão desafiadores, mas não que vai ser ruim para pecuária, principalmente neste ano de 2022”, diz Thiago.

Para o pesquisador do Cepea, a oferta de animais deve aparecer especialmente neste e no próximo ano, acirrando a competição pela procura de animais de reposição. Segundo Thiago, sai na frente o pecuarista que utilizar ferramentas de gestão.

Preços da arroba

Apesar do cenário não se alterar muito, a avaliação é que os preços da arroba do boi gordo fiquem na casa dos R$ 330 a R$ 345, e com boas expectativas de preço em 2022 por conta das eleições.

“Temos aí um ano de eleição que tradicionalmente traz uma valorização. Temos também um câmbio forte. Conseguimos ver negócios na bolsa acima dos R$ 340 para o final do ano, então acreditamos que vamos ficar nesse patamar elevado de preço, mas não vemos mais aquele fôlego de ter preços maiores”, diz Thiago.

Já a avaliação de Yago é um pouco mais pessimista, com uma tendência de desvalorização de preços no longo prazo, especialmente, por conta da transição do ciclo pecuário.

“Na visão de curto prazo eu acho que esse boi permanece muito firme no patamar de R$ 330 a R$ 345, mas a minha visão de médio e longo prazo é um pouco mais pessimista, levando para uma desvalorização sazonal que é padrão acontecer até maio. A própria B3 já pontua a arroba saindo de R$ 340 para R$ 326, para maio de 2022. Então a gente tem essa percepção de que vai se desvalorizar, mas a gente precisa descobrir agora qual será essa intensidade”, diz Yago.

Demanda, oferta e custos

Outro fator que está ditando as regras de preço do mercado é justamente o movimento econômico natural de oferta e demanda.

Num cenário de oferta, mesmo que um pouco restrita, e uma demanda ainda menor tende a refletir naturalmente em preços mais baixos.

É isso que está acontecendo no País, especialmente porque o maior consumidor de carne bovina, o mercado interno, não está com apetite.

Por outro lado, são as exportações que mantêm o fôlego no mercado de boi, no entanto o sinal de alerta vem com custos mais elevados.

“A China precisa da nossa carne e vai continuar comprando, mas eu tenho um custo. Então, pelo lado da oferta, vamos seguindo, como já foi desenhado, com esse volume de boi magro que começa aparecer. No curto prazo, podemos sofrer muito pela questão da falta desse animal, mas depois a situação melhora até o final da safra, na qual eu consigo manter esse animal no pasto. O desafio começa no cenário no qual já se falam em saca de soja a R$ 200”, avalia Thiago.

Confira na íntegra o programa

Fonte: portaldbo.com.br